segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Bullying

Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.

O bullying se divide em duas categorias: a) bullying direto, que é a forma mais comum entre os agressores masculinos e b) bullying indireto, sendo essa a forma mais comum entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento social da vítima. Em geral, a vítima teme o(a) agressor(a) em razão das ameaças ou mesmo a concretização da violência, física ou sexual, ou a perda dos meios de subsistência.

O bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam, tais como escola, faculdade/universidade, família, mas pode ocorrer também no local de trabalho e entre vizinhos. Há uma tendência de as escolas não admitirem a ocorrência do bullying entre seus alunos; ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente. Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas.

As pessoas que testemunham o bullying, na grande maioria, alunos, convivem com a violência e se silenciam em razão de temerem se tornar as “próximas vítimas” do agressor. No espaço escolar, quando não ocorre uma efetiva intervenção contra o bullying, o ambiente fica contaminado e os alunos, sem exceção, são afetados negativamente, experimentando sentimentos de medo e ansiedade.

As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio.

O(s) autor(es) das agressões geralmente são pessoas que têm pouca empatia, pertencentes à famílias desestruturadas, em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser escasso ou precário. Por outro lado, o alvo dos agressores geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de solicitar ajuda.

No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com alunos de escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são: Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.

Os atos de bullying ferem princípios constitucionais – respeito à dignidade da pessoa humana – e ferem o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. O responsável pelo ato de bullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Gueto de Varsóvia

ContemporâneaO Gueto de Varsóvia
O GUETO DE VARSÓVIA

Introdução
A teoria anti-semita do nazismo foi esboçada inicialmente no livro “Mein Kampf”, (Minha Luta) que Hitler escreveu enquanto esteve no presídio militar de Landsberg, por força de sentença do Tribunal de Munique, uma vez que liderara o levante conhecido como PUTSCH DE MUNIQUE. Condenado a 5 anos de prisão, ficou detido por apenas 8 meses.
Toda a década de 20 do século XX foi caracterizada por grave crise na Alemanha, em parte devido as imposições do pós Primeira Guerra, que se ampliaram após a crise 1929. Apesar de variações na dimensão da crise, considera-se que ela foi responsável pela “polarização ideológica”, quando percebemos a organização e o crescimento do movimento fascista e, na Alemanha, do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores (Nazista) liderado por Hitler
O Partido nazista chegou efetivamente ao poder em janeiro de 1933. Desde então configurou-se uma ditadura no país e, do ponto de vista social, a perseguição em larga escala aos judeus; não havia instância policial ou estatal capaz de conter os distúrbios e agressões das SA, as temidas milícias paramilitares do Partido Nacional-Socialista ( o nome original, Sturmabteilung, significaria Divisão de Assalto).
Rapidamente os judeus foram despojados de seus direitos individuais e civis, proibidos de exercer determinadas profissões, limitados em seu direito de ir e vir, expulsos de universidades, agredidos, obrigados a entregar ou vender empresas e propriedades. Quem podia, tentava fugir para o exterior para escapar das perseguições.
As perseguições se estenderam a todos os territórios ocupados pelas tropas alemãs, conforme avançavam, principalmente em territórios do leste europeu. Nesse sentido, a Polônia, primeiro país ocupado pelos alemães e com população judaica em grande número, sentiu diretamente os efeitos da política nazista, que combinou o “combate às raças inferiores” com o combate a todos aqueles que se opunham ao novo governo do pinto de vista político. Socialistas, comunistas, nacionalistas poloneses, todos que, de alguma forma participaram ou contribuíram com a resistência polonesa foram perseguidos e, quando capturados, enviados inicialmente para Auschwitz.

A Solução Final

Não se sabe exatamente quando se iniciou a política de extermínio completo dos judeus, designada pelos nazistas como “a solução final”. Para muitos historiadores a “Solução Final” teria se iniciado após a invasão da União Soviética, quando os Einsatzgruppen (Grupos de Tarefas Especiais) entraram na União Soviética seguindo a invasão das forças armadas, em junho de 1941 e passaram a fuzilar judeus onde quer que estes se encontrassem. Cerca de 500.000 judeus foram mortos desta forma entre Julho e Dezembro de 1941.
No entanto, a maioria dos documentos existentes considera que a decisão de Hitler, no sentido de efetivar a eliminação em massa, foi de dezembro de 1941 e, portanto, colocada em prática a partir do início do ano seguinte.

Varsóvia

Enquanto os campos de concentração destinavam-se aos prisioneiros políticos, os judeus foram obrigados e viver em “guetos”; Os guetos judeus na região do chamado "governo geral" (área sob domínio nazista) deveriam acolher todos os judeus europeus: Lodz, Varsóvia, Cracóvia, Jalowiec ou Bialystok.
Quando o exército alemão instalou-se na Polônia e passou a exercer controle efetivo na área sob seu domínio, em outubro de 1939,iniciou uma política de transferência dos 400 mil judeus de Varsóvia para o antigo bairro judeu que, em condições normais, tinha condições de abrigar 60 mil pessoas.
Um muro de cerca de 3 metros de altura, ao longo de 18 kilometros foi rapidamente levantado para isolar completamente o bairro, que tornou-se um "gueto" no sentido mais exato e nefasto da palavra. Aos judeus de Varsóvia se somaram outros 100 mil, presos nos povoados vizinhos. As imagens do gueto mostram as condições sub-humanas de vida sem a menor infra-estrutura habitacional, de alimentação ou de saúde.. Crianças esqueléticas pediam esmolas nas ruas, adultos desesperados sem dinheiro para poder sobreviver. Os gêneros alimentícios eram contrabandeados.

Em 1942, os nazistas deram início a sua política de eliminação física dos judeus, cujo nome era "deportação para o Leste". Para as pessoas nos guetos, afirmavam que iriam para uma frente de trabalho e que poderiam inclusive ganhar dinheiro. Mas o destino final da viagem eram os campos de extermínio. Até janeiro de 1943, quase 317 mil judeus foram deportados e assassinados nas câmaras de gás.
As pessoas que permaneceram no Gueto de Varsóvia ficaram desconfiadas e a resistência judaica que começara a se organizar início de 1940 transformou-se num grupo de combate, reunindo todas as tendências políticas possíveis.
Em janeiro de 1943, Heinrich Himmler, então chefe da Gestapo – a polícia secreta -, esteve em Varsóvia e foi pessoalmente ao gueto, para logo após dar a ordem de destruição e de extermínio de todos os seus habitantes. No dia 18 de janeiro de 1943, vários batalhões da SS (Schutzstaffel - em português "Tropa de Proteção") cercaram a atacaram o gueto, mas para surpresa geral, foram recebidas à bala e granadas, forçadas a se retirar após sofrerem muitas baixas.
Um dos principais líderes da rebelião, Anilevitch, um jovem de 24 anos, fez um apelo ao mundo exterior através de uma rádio clandestina: "Declaramos guerra à Alemanha, a declaração de guerra mais desesperada que já foi feita. Organizamos a defesa do gueto, não para que o gueto possa defender-se, mas para que o mundo veja a nossa luta desesperada como uma advertência e uma crítica".
Após uma trégua de três meses, em 19 de abril de 1943, foi realizada nova investida de tropas nazistas, que contou com a colaboração de grupos fascistas poloneses e ucranianos. Mais uma vez os moradores do gueto resistiram, utilizando armas contrabandeadas, e rechaçaram os inimigos que acabaram fugindo de forma desorganizada. Para os defensores do gueto, o desespero era sua força.
Diante de tamanha resistência, o comandante alemão Jürgen Stroop recebeu ordem pessoal de Hitler para usar de todos os meios a fim de destruir o gueto: artilharia, blindados, lança-chamas, gás asfixiante. Era uma luta corpo a corpo nas ruas, nas casas, sala por sala, sobre os telhados, nos porões, nos esgotos. Finalmente, no ataque final, a aviação alemã teve que intervir para acabar com os últimos focos de resistência.
Para comemorar a destrição do "gueto", Stroop mandou dinamitar a principal sinagoga de Varsóvia, representando o ato final do extermínio daquela que havia sido uma das maiores comunidades judaicas da Europa.Fotos / Clique para ampliar

Canal de Suez

O Canal de Suez
O Egito e o Canal de Suez


Desde a antiguidade, persas e depois romanos, imaginaram a construção de um ou mais canais que facilitassem o transporte de mercadorias entre regiões do Oriente Médio e a Europa. Os romanos, quando invadiram a região, construíram vários canais ligando o sul até o delta do Nilo. No entanto, foi durante o século XIX que essa idéia ganhou novo corpo e se materializou, num momento de expansão do capitalismo, marcado pela expansão da indústria na Europa e a necessidade de ampliar mercados, assim como de encurtar distâncias entre os mesmo e as áreas produtoras.

Desde os primórdios do século XVI o Egito esteve sob domínio do Império Turco Otomano, domínio este que se estendeu até 1882. Foi um pouco antes dos turcos perderem o controle sobre a região, que o Canal de Suez foi construído.

O país era governado pelo Rei Said Pascha, que assinou, em novembro de 1854, a licença para a construção de um canal entre os mares Vermelho e Mediterrâneo. A Obra ficou a cargo da Companhia Geral do Canal de Suez, criada pelo engenheiro francês Ferdinand Marie de Lesseps, que obteve permissão para explorá-lo durante 99 anos. A obra foi concluída e inaugurada em 1869.
Na segunda metade do século XIX, época da construção do Canal, a França era governada por Napoleão III e vivenciava um processo de rápida industrialização, dentro daquilo que se convencionou denominar como Segunda Revolução Industrial.

A França já ocupava algumas regiões da África, como a Argélia (conquistada entre 1830 e 1834) e pode-se compreender a construção do Canal de Suez como mais um passo de uma política imperialista, típica do final daquele século, que envolveu diversas nações do continente europeu e ainda o Japão, no processo neocolonialista.

Toda uma legislação especial foi estabelecida para a utilização do Canal, caracterizada pelo liberalismo, que considerava a permissão de passagem para embarcações de qualquer nação. Mesmo assim, as disputas coloniais colocavam novas situações de conflito, envolvendo o interesse de empresas e de nações, na verdade interesses que misturavam público e privado.

Foi nesse contexto que a Inglaterra, a maior potência da época e que continuava sua política de expansão, invadiu e dominou o Egito, retirando-o da dominação turca.

O Império Turco conhecia um processo de decadência, percebido pelas lutas nacionalistas na Península Balcânica e reduzia-se, perdendo espaço para as potências européias, que vislumbravam dominar as regiões do Oriente Médio.

Na época da inauguração do Canal de Suez ainda não havia a exploração de petróleo no Oriente Médio, que décadas depois, já no início do século XX, colocou um novo ingrediente nas disputas que envolveram a região.

A ocupação britânica

A construção do Canal de Suez foi responsável por grande endividamento externo do governo egípcio, que obtivera empréstimos em bancos europeus, em especial ingleses. O governo estabeleceu uma situação de dependência crescente em relação ao capital internacional, fato que permitiu a ampliação de negócios estrangeiros no país e, ao mesmo tempo, alimentou um forte movimento nacionalista liderado por militares, que pretenderam derrubar o governo de Ismail Pacha.

A intervenção britânica iniciou-se em 1881e no ano seguinte o movimento revolucionário dos militares foi derrotado. Os ingleses passavam a exercer maior controle sobre o Canal, assim como passaram a ter o controle quase que completo da economia egípcia, a maior produtora de algodão do mundo naquele momento, matéria-prima fundamental para a indústria têxtil inglesa, a mais moderna da época.

A Inglaterra implementou no Egito o mesmo modelo de colonização que desenvolvia em outras regiões sob seu domínio, preservando no poder uma elite local, porém subserviente aos interesses britânicos. A manutenção de tropas britânicas, com o pretexto de garantir a ordem e os direitos dos investidores no país foi acompanhada da manutenção do antigo governante, o quediva (designação para vice-rei para os turcos). Apesar da existência de um “governo egípcio”, quem comandava o país eram os Altos Comissários Gerais britânicos, que por igual acumulavam a função protocolar de cônsules gerais do Império Britânico no Egito, apoiados pela elite agrária exportadora de algodão. A população promoveu pequenas revoltas e demonstrou descontentamento com a presença e influência britânica e a religião muçulmana serviu de elemento catalisador para esse descontentamento, apesar de que mesmo a elite entreguista era muçulmana. No entanto o movimento popular nunca encontrou força suficiente para a expulsão dos britânicos

Com o início da Primeira Guerra Mundial, o povo egípcio depositou esperanças de que no final do conflito ocorreria a evacuação das tropas britânicas do país.

No entanto, o acordo secreto Saykes-Picott, de 1916, entre Ingçlaterra e a França, que dois anos depois venceram a guerra, demosntrou que as potências não tinham nenhum intenção de abandonar o Oriente Médio. As duas potências colonialistas, controladoras do Canal de Suez,pretendiam manter e ampliar o controle sobre diversas regiões do Oriente Médio. Alias foi durante a Guerra que caracterizou a existência de petróleo da região. Inglaterra e França acertaram dividir entre si as antigas províncias otomanas (a Inglaterra preservou o controle sobre o Egito, mais a Palestina, a Transjordânia e a Mesopotâmia - atual Iraque -, enquanto a França passou a dominar as regiões do Líbano e da Síria).

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pedra da Rosseta

Pedra de RosetaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ir para: navegação, pesquisa

A Pedra de Roseta, atualmente no Museu Britânico.A Pedra de Roseta é um fragmento de uma estela de granodiorito do Egito Antigo, cujo texto foi crucial para a compreensão moderna dos hieróglifos egípcios. Sua inscrição registra um decreto promulgado em 196 a.C., na cidade de Mênfis, em nome do rei Ptolomeu V, registrado em três parágrafos com o mesmo texto: o superior está na forma hieroglífica do egípcio antigo, o trecho do meio em demótico, variante escrita do egípcio tardio, e o inferior em grego antigo.[1]

Exibida originalmente dentro de um templo, a estela provavelmente foi removida durante os períodos cristão ou medieval, e eventualmente terminou sendo usada como material na construção de um forte na cidade de Roseta (Rashid), no delta do Nilo. Foi redescoberta ali em 1799 por um soldado integrante da expedição francesa ao Egito. Primeiro texto bilíngue a ser recuperado na história moderna, a Pedra de Roseta logo despertou grande interesse pela possibilidade de conter uma tradução da antiga língua egípcia, até então nunca decifrada. Cópias litografadas e de gesso passaram a circular entre museus e acadêmicos europeus. Neste meio tempo, tropas britânicas derrotaram os franceses no Egito, em 1801, e a pedra acabou passando para a posse do Reino Unido, de acordo com a Capitulação de Alexandria. Transportada para Londres, está em exibição ao público no Museu Britânico desde 1802, onde é o objeto mais visitado.

O estudo do decreto já estava bem avançado quando a primeira tradução completa do texto grego surgiu, em 1803. Somente 20 anos depois, no entanto, foi feito o anúncio da decifração dos textos egípcios por Jean-François Champollion, em 1822; muito tempo ainda se passou até que os estudiosos pudessem ler outras antigas inscrições egípcias e compreender sua literatura com alguma confiança. Os principais fatores para esta decodificação foram: a descoberta de que a Pedra oferecia três variantes do mesmo texto (1799); que o texto em demótico utilizava caracteres fonéticos para soletrar os nomes estrangeiros (1802); que o texto em hieróglifos não só também o fazia, como tinha semelhanças profundas com o demótico (Thomas Young, 1814); e que, além de serem utilizados para soletrar estes nomes, os caracteres fonéticos também eram utilizados para soletrar palavras nativas do egípcio (Champollion, 1822–1824). Desde sua redescoberta, a Pedra tem sido alvo de rivalidades nacionalistas, incluindo sua transferência da França para o Reino Unido durante as Guerras Napoleônicas, a antiga disputa sobre o valor relativo das contribuições de Young e Champollion para a decifração, e, desde 2003, a reivindicação de retorno feita pelo Egito.

Duas outras cópias fragmentárias do mesmo decreto foram descobertas mais tarde, e diversas inscrições bilíngues ou trilíngues semelhantes foram descobertas posteriormente, incluindo dois decretos Ptolomaicos um pouco anteriores (o Decreto de Canopo, de 238 a.C., e o decreto de Mênfis de Ptolomeu IV, c. 218 a.C.). A Pedra de Roseta, portanto, não tem mais o valor de ser única, porém foi essencial para a compreensão moderna da literatura e da civilização do Egito Antigo. O termo Pedra de Roseta é utilizado hoje em dia em outros contextos, para se referir a alguma informação essencial de um campo novo de conhecimento.

Índice [esconder]
1 Descrição
1.1 Estela original
2 Decreto de Mênfis e seu conteúdo
3 Descoberta
4 Estudos
5 Conteúdo da Pedra de Roseta
6 Ver também
7 Notas
8 Referências
9 Bibliografia
10 Ligações externas

DescriçãoA Pedra de Roseta é listada como "uma pedra de granito negro que apresenta três inscrições ... descoberta em Roseta", num catálogo contemporâneo de artefatos descobertos pela expedição francesa e entregue às tropas britânicas em 1801.[2] Em algum ponto após sua chegada a Londres, a pedra teve suas inscrições pintadas com giz branco, para que ficassem mais legíveis, e a superfície restante coberta por uma camada de cera de carnaúba, projetada para protegê-la dos dedos dos visitantes.[3] Isto lhe deu uma cor escura, que fez com que fosse identificada erroneamente como basalto negro.[4] Estes acréscimos foram removidos quando a pedra foi limpa, em 1999, revelando sua tonalidade cinza-escuro original, o brilho da estrutura cristalina, e um veio rosa que a atravessa no canto superior esquerdo.[5] Comparações feitas com a coleção Klemm de rochas egípcias mostraram uma semelhança com as rochas obtidas na pedreira de granodiorito de Gebel Tingar, na margem ocidental no Nilo, a oeste da ilha de Elefantina, na região de Assuã; este veio rosado é uma característica típica do granodiorito desta região.[6]

A Pedra de Roseta tem atualmente 114,4 centímetros de altura (em seu ponto mais alto), 72,3 cm de largura e 27,9 cm de espessura. Pesa aproximadamente 760 quilos.[7] Traz três inscrições: a do topo registra o texto em hieróglifos egípcios, a segunda na escrita demótica egípcia, e a terceira em grego antigo.[8] A superfície frontal é polida, e as inscrições parecem ter sido gravadas sobre ela; os lados da pedra foram aplainados, porém sua parte traseira foi trabalhada de maneira bruta, presumivelmente porque ela não tinha a intenção de ser visível, onde quer que tenha sido erguida. [6][9]

Estela original
Possível reconstrução da estela em seu estado original.A Pedra de Roseta é um fragmento de uma estela maior. Nenhum outro fragmento foi encontrado em escavações posteriores do sítio arqueológico de Roseta.[10] Por seu estado precário de conservação, nenhum dos três textos está totalmente completo. O registro superior, que consiste dos hieróglifos egípcios, foi o mais danificado; apenas 14 linhas de texto restam, todas sem parte do lado direito, e 12 delas sem o lado esquerdo. O registro seguinte, em demótico, é o que se encontra em melhor estado; tem 32 linhas, das quais as primeiras 14 estão levemente danificadas no lado direito. O registro final, do texto grego, tem 54 linhas, das quais as primeiras 27 estão conservadas em relativa integridade, enquanto o restante está num estado fragmentário devido a uma rachadura diagonal no canto inferior direito da pedra.[11]

A extensão total do texto em hieróglifos e o tamanho total da estela original, da qual a Pedra de Roseta é um fragmento, pode ser estimada com base nas estelas semelhantes que sobreviveram aos dias de hoje, incluindo outras cópias do mesmo decreto. O decreto de Canopo, feito pouco tempo antes e erguido em 238 a.C., durante o reinado de Ptolomeu III, tem 219 cm de altura e 82 de largura, com 36 linhas de texto hieroglífico, 73 do demótico e 74 do grego. Os textos têm uma dimensão semelhante nas duas estelas.[12] A partir destas comparações pode-se chegar à estimativa de que faltam cerca de 14 ou 15 linhas de inscrições em hieróglifos no registro superior da Pedra de Roseta, que representariam outros 30 centímetros.[13] Além destas inscrições, também deveria provavelmente existir nela uma cena mostrando o rei sendo apresentado aos deuses, sob um disco alado ao topo de tudo, como foi feito na Estela de Canopo. Estes paralelos, bem como um sinal hieroglífico significado 'estela' na própria pedra; a Gardiner's Sign List (O26) sugere que sua parte superior deveria ser arredondada originalmente.[8][14] Estima-se que a altura da estela original fosse de 149 centímetros.[14]

Decreto de Mênfis e seu conteúdoA estela foi erguida após a coroação do rei Ptolomeu V, e foi inscrita com um decreto que estabelecia o culto divino do novo soberano.[15] O decreto foi proclamado por um congresso de sacerdotes reunidos em Mênfis, sua data é "4 de Xandico", no antigo calendário macedônico, e "18 de Meshir" no calendário egípcio, que correspondia a 27 de março de 196. O ano é citado como o nono ano do reinado de Ptolomeu V (equivalente a 197/196 a.C.), o que é confirmado através da citação de quatro sacerdotes que foram nomeados para o cargo no mesmo ano; Aeto, filho de Aeto foi sacerdote dos cultos divinos de Alexandre, o Grande e de cinco Ptolomeus, inclusive o próprio Ptolomeu V; seus três colegas, também citados nominalmente na inscrição, iniciaram o culto a Berenice Evérgeta (esposa de Ptolomeu III), Arsínoe Filadélfia (esposa e irmã de Ptolomeu II) e Arsínoe Filopator, mãe de Ptolomeu V.[16] Uma segunda data, no entanto, é fornecida nos textos gregos e hieroglíficos, que corresponde a 27 de novembro de 197, aniversário oficial da coroação de Ptolomeu.[17] A inscrição em demótico está conflitante, listando dias consecutivos em março para o decreto e o aniversário;[17] embora o porquê destas discrepâncias seja incerto, parece claro que o decreto data de 196 d.C., e que ele teve como intenção restabelecer o domínio dos reis ptolomaicos sobre o Egito.[18]

O decreto foi promulgado durante um período turbulento na história egípcia. Ptolomeu V Epifânio (reinou de 204 a 181 a.C.), filho de Ptolomeu IV Filopator e sua esposa e irmã, Arsínoe, havia se tornado soberano com cinco anos de idade, depois da morte repentina de seus pais, assassinados, de acordo com fontes contemporâneas, numa conspiração que envolveu a amante de Ptolomeu IV, Agatocleia. Os conspiradores efetivamente governaram o Egito como guardiães de Ptolomeu V,[19][20] até que, dois anos mais tarde, uma revolta eclodiu sob o comando o general Tlepólemo, e Agatocleia, juntamente com sua família, foi linchada por uma multidão em Alexandria. Tlepólemo, por sua vez, foi substituído como guardião do jovem rei, em 201, por Aristómenes de Alízia, principal dos ministros durante o período do decreto de Mênfis.[21]

Forças políticas externas às fronteiras do Egito exacerbaram os problemas internos do reino ptolomaico. Antíoco III, o Grande e Filipe V da Macedônia fizeram um pacto visando dividir os territórios egípcios localizados pelo Mediterrâneo; Filipe havia capturado diversas ilhas e cidades da Cária e Trácia, enquanto a Batalha de Pânio (198 a.C.), e resultou na transferência da Cele-Síria (incluindo a Judeia) dos Ptolomeus para os selêucidas. Enquanto isso o sul do Egito passava por uma duradoura revolta, iniciada já durante o reinado de Ptolomeu IV,[17] liderada por Horwennefer e por seu sucessor, Ankhwennefer.[22] Tanto a guerra quanto a revolta ainda estavam ocorrendo quando o jovem Ptolomeu foi coroado oficialmente em Mênfis, com 12 anos de idade (sete anos depois do início de seu reinado), e o decreto de Mênfis foi promulgado.[20]


Outro exemplo fragmentário de uma "estela donativa", na qual o faraó Pepi II, do Antigo Império, concede uma isenção de impostos aos sacerdotes residentes do templo de Min.A estela é um exemplar tardio de uma classe de estelas donativas, que mostram o monarca reinante concedendo uma isenção de impostos aos sacerdotes residentes.[23] Os faraós vinham erguendo estas estelas ao longo de 2000 anos, e seus exemplos mais antigos datam do período do Antigo Império. Em tempos antigos estes decertos eram promulgados pelo próprio rei, porém o decreto de Mênfis foi promulgado pelos próprios sacerdotes, na função de mantenedores da cultura egípcia tradicional.[24] O decreto registra que Ptolomeu V presenteou os templos com prata e grãos.[25] Também registra que, no oitavo ano de seu reinado, durante uma enchente do Nilo particularmente intensa, o rei represou as águas que estavam transbordando, para o bem dos fazendeiros.[25] Em troca destas concessões, o sacerdote prometia que os dias do aniversário e da coroação do rei seriam comemorados anualmente, e que todos os sacerdotes do Egito prestariam culto a ele, ao lado dos outros deuses. O decreto concluía com a instrução de que uma cópia deveria ser colocada em cada templo, inscrita na "língua dos deuses" (hieróglifos), na "língua dos documentos" (demótico) e na "língua dos gregos", que era utilizada pelo governo ptolomaico.[26][27]

Conquistar o apoio dos sacerdotes era essencial para os reis ptolomaicos conseguirem ter um domínio efetivo sobre a população egípcia. Os Sumos Sacerdotes de Mênfis - onde o rei havia sido coroado - eram particularmente importantes, na medida em que eram a mais alta autoridade da época, e tinham influência em todo o reino.[28] Como o decreto foi promulgado em Mênfis, antiga capital do Egito, e não em Alexandria - centro do governo durante todo o período dos Ptolomeus - parece evidente que o jovem rei estava ansioso em conquistar o apoio ativo destes sacerdotes.[29] Assim, embora o governo do Egito tivesse adotado oficialmente o grego desde as conquistas de Alexandre, o Grande, o decreto de Mênfis, como os dois decretos que o precederam na série, traziam textos em egípcio, como forma de mostrar sua importância para a população, através dos sacerdotes alfabetizados no egípcio.[30]

A Pedra de Roseta não foi traduzida diretamente para o português. Não existem traduções definitivas do decreto para o inglês, devido às pequenas diferenças entre os três textos originais, e porque a compreensão moderna dos idiomas antigos continua a ser desenvolvido. Uma tradução atualizada de R. S. Simpson, baseada no texto demótico, consta do site do Museu Britânico.[31] Ela pode ser comparada com a tradução completa de Edwyn R. Bevan, publicada em The House of Ptolemy (1927),[32] com base no texto grego, e com comentários em notas de rodapé sobre as diferenças entre este texto e outros dois em egípcio. A versão de Bevan se inicia assim:[nota 1]

In the reign of the young one—who has received the royalty from his father—lord of crowns, glorious, who has established Egypt, and is pious towards the gods, superior to his foes, who has restored the civilized life of men, lord of the Thirty Years' Feasts, even as Hephaistos the Great; a king, like the Sun, the great king of the upper and lower regions; offspring of the Gods Philopatores, one whom Hephaistos has approved, to whom the Sun has given the victory, the living image of Zeus, son of the Sun, Ptolemy living-for‑ever beloved of Ptah; in the ninth year, when Aëtus, son of Aëtus, was priest of Alexander ...;

The chief priests and prophets and those that enter the inner shrine for the robing of the gods, and the feather-bearers and the sacred scribes, and all the other priests ... being assembled in the temple in Memphis on this day, declared:

Since king Ptolemy, the everliving, the beloved of Ptah, the God Epiphanes Eucharistos, the son of king Ptolemy and queen Arsinoe, Gods Philopatores, has much benefited both the temples and those that dwell in them, as well as all those that are his subjects, being a god sprung from a god and goddess (like Horus, the son of Isis and Osiris, who avenged his father Osiris), and being benevolently disposed towards the gods, has dedicated to the temples revenues in money and corn, and has undertaken much outlay to bring Egypt into prosperity, and to establish the temples, and has been generous with all his own means, and of the revenues and taxes which he receives from Egypt some has wholly remitted and others has lightened, in order that the people and all the rest might be in prosperity during his reign ...;

It seemed good to the priests of all the temples in the land to increase greatly the existing honours of king Ptolemy, the everliving, the beloved of Ptah ... And a feast shall be kept for king Ptolemy, the everliving, the beloved of Ptah, the God Epiphanes Eucharistos, yearly in all the temples of the land from the first of Thoth for five days; in which they shall wear garlands, and perform sacrifices, and the other usual honours; and the priests shall be called priests of the God Epiphanes Eucharistos in addition to the names of the other gods whom they serve; and his priesthood shall be entered upon all formal documents and private individuals shall also be allowed to keep the feast and set up the aforementioned shrine, and have it in their houses, performing the customary honours at the feasts, both monthly and yearly, in order that it may be known to all that the men of Egypt magnify and honour the God Epiphanes Eucharistos the king, according to the law.

A estela quase certamente não se originou na cidade de Rashid (Roseta), onde foi encontrada, mas provavelmente veio de algum templo situado mais a interior, possivelmente na cidade real de Saís.[33] O templo do qual veio originalmente provavelmente foi fechado por volta de 392 d.C., quando o imperador romano oriental Teodósio I ordenou o fechamento de todos os templos de cultos não-cristãos.[34] Em algum ponto depois disso a estela se partiu, e a sua maior parte se tornou o que atualmente é conhecido como a Pedra de Roseta.[35] Os antigos templos egípcios foram usados como fontes de material para novas construções, e a Pedra provavelmente foi reutilizada desta maneira. Mais tarde acabou sendo incorporada às fundações de uma fortaleza construída pelo sultão mameluco Qaitbay (c. 1416, 1418–1496) para a defesa do Bolbitine, afluente do Nilo que passa por Rashid.[35] Lá ela ficou por pelo menos três séculos, até ser redescoberta.[35]

Duas outras inscrições dos decretos de Mênfis foram descobertas desde que a Pedra de Roseta foi encontrada: a Estela de Nubayrah, e uma inscrição encontrada no Templo de Filas. Ao contrário da Pedra de Roseta, suas inscrições em hieróglifos estavam relativamente intactas, e embora as inscrições da Pedra de Roseta já tivessem sido decifradas muito antes da descoberta destas outras cópias do decreto, egiptologistas posteriores, incluindo Wallis Budge, utilizaram-se destas outras incrições para compreender com maior precisão os hieróglifos que haviam sido utilizados nas partes do registro hieroglífico da Pedra de Roseta que haviam sido perdidas.[36]


Descoberta
A Pedra de Roseta no Museu Britânico (Londres)A pedra foi encontrada no Egito em agosto de 1799, por soldados do exército de Napoleão Bonaparte, particularmente por um oficial chamado Bouchard, enquanto conduziam um grupo de trabalho de engenheiros para o Forte Julien, cerca de 56 km ao leste de Alexandria.

Devido aos termos da capitulação francesa diante do Reino Unido em 1801, a pedra foi cedida às autoridades militares britânicas e depositada no Museu Britânico, onde se encontra até os nossos dias.

O bloco de pedra apresentava glifos cunhados em três partes distintas. Cada parte revelava um tipo de escrita que em nada se assemelha às demais. As três formas, constatou-se posteriormente, eram um texto em:

Hieróglifos
Demótico egípcio e
Grego clássico
O texto registra um decreto do corpo sacerdotal do Egito, reunido em Mênfis, instituído em 196 a.C., sob o reinado de Ptolemeu V Epifânio(205 a 180 a.C.), escrito em dois idiomas: Egípcio Tardio e Grego. O texto em antigo egípcio foi escrito em duas versões: hieróglifos e demótico, esta última uma variante cursiva da escrita hieroglífica.

A pedra tem 114 cm de altura, 72 cm de largura, cerca de 28 cm de espessura e pesa 760 kg. [37]

EstudosLevantava-se a hipótese de que os três textos fossem o mesmo, embora apenas o em grego pudesse ser entendido.

O conhecimento sobre a escrita em hieróglifos encontrava-se perdido desde o século IV a.C., e do demótico desde pouco depois. Desse modo, dois problemas confrontavam os acadêmicos que trabalhavam com as inscrições: saber se os hieróglifos representavam uma simbologia fonética ou apenas símbolos pictóricos, e determinar o significado das palavras individuais.

O médico britânico Thomas Young obteve um substancial progresso em 20 anos de estudo. Mas o mérito final da completa realização da tradução, em 1822, pertence ao estudioso francês Jean-François Champollion, que desta forma iniciou a ciência do estudo de assuntos referentes ao Egito, a egiptologia.

Conteúdo da Pedra de RosetaO faraó Ptolomeu V Epifânio havia concedido ao povo a isenção de uma série de impostos. Em sinal de agradecimento, os sacerdotes ergueram uma estátua de Ptolomeu V em cada templo e organizaram festividades anuais em sua honra. Para deixar registrada para sempre tal decisão, gravaram-na em várias estelas comemorativas e colocaram uma delas em cada templo importante da época. Os soldados de Napoleão encontraram uma dessas pedras. Apesar de estar mutilada, foi possível reconstituir a totalidade do texto original da estela, graças a outras cópias do decreto que foram encontradas. Ele reza:

"No decorrer do reinado do jovem que sucedeu a seu pai na realeza, Senhor dos Diademas, mui glorioso, que estabeleceu o Egito e foi piedoso perante os deuses, triunfante sobre seus inimigos e que restaurou a paz e a vida civilizada entre os homens, Senhor dos Festivais dos Trinta Anos, semelhante a Ptah, o Grande, um rei como Rá, grande rei dos países Alto e Baixo, progênie dos Deuses Filopatores, aprovado por Ptah, a quem Rá deu a vitória, imagem viva de Amum, filho de Rá, PTOLOMEU, ETERNO, AMADO DE PTAH, no nono ano, quando Aetos, filho de Aetos, era sacerdote de Alexandria e os deuses Sóteres e os deuses Adelphoi e os deuses Evergetes e os deuses Filopatores e o deus Epifânio Eucaristo; Pyrrha, filha de Philinos, sendo Athlophoros de Berenice Evergetes, Areia, filha de Diogenes, sendo Kanephoros de Arsinoe Filadelfo; Irene, filha de Ptolomeu, sendo sacerdotisa de Arsinoe Filopator; aos quatro do mes de Xandikos, de acordo com os egípcios, o 18ª de Mekhir.
O DECRETO
Estando reunidos os Sacerdotes Principais e Profetas e aqueles que adentram no templo interior para paramentar os deuses, e os Portadores de Abano e os Escribas Sagrados e todos os demais sacerdotes dos templos da terra que vieram se encontrar com o rei em Mênfis para a festa da assunção de PTOLOMEU, ETERNO, O BEM AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, o sucessor de seu pai na realeza;
estando todos reunidos no templo de Mênfis nesse dia, declaram que:
considerando que o rei PTOLOMEU, ETERNO, O BEM AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, o filho do rei Ptolomeu e da rainha Arsinoe, os deuses Filopatores, foi um benfeitor tanto do templo quanto daqueles que vivem nele, bem como de seus assuntos, sendo um deus oriundo de um deus e de uma deusa amados de Hórus, o filho de Ísis e de Osíris, que vingou seu pai Osíris, estando propiciamente inclinado em relação aos deuses, destinou à renda dos templos riquezas e milho e empreendeu muitas despesas para a prosperidade do Egito e para a manutenção dos templos e foi generoso sobretudo com seus próprios meios; e isentou alguns e abrandou para outros os impostos e taxas cobrados no Egito, para que essas pessoas e todas as demais pudessem viver em prosperidade durante seu reinado;
e considerando que ele anulou os débitos que numerosos egípcios e o restante do reino tinham com relação à coroa;
e considerando que para aqueles que estavam presos e aos que estavam sob acusação há muito tempo, ele decidiu aliviá-los das cargas que pesavam contra eles;
e considerando que ele confirmou que os deuses continuarão a viver das rendas dos templos e das dotações anuais recebidas, tanto de grãos quanto de bens, bem como das rendas destinadas aos deuses pelos vinhedos, jardins e outras propriedades que pertenciam aos deuses durante o reinado de seu pai;
e considerando que ele também decidiu, em respeito aos sacerdotes, que eles não devem, para admissão ao sacerdócio, pagar mais do que as taxas estabelecidas durante o reinado do seu pai e até o primeiro ano do seu próprio reinado; e desobrigou os membros das ordens sacerdotais da viagem anual a Alexandria;
e considerando que ele decidiu que não haverá mais nenhum recrutamento compulsório para a marinha; e que da taxa sobre tecido de linho fino pago pelos templos à coroa ele reduziu dois terços; e que qualquer que tenham sido as negligências de tempos passados, ele as corrigiu devidamente, destacando-se muito particularmente as taxas tradicionais a serem pagas apropriadamente aos deuses; e igualmente a todos ministrou justiça, como Thoth, o grande e grande; e decretou que aqueles que retornam da guerra e aqueles que foram espoliados de seus bens nas épocas de turbulência, devem, no seu retorno, ser autorizados a ocupar suas antigas propriedades;
e considerando que ele autorizou o desembolso de grande quantidade de dinheiro e grãos para enviar a cavalaria, a infantaria e a marinha contra aqueles que invadirem o Egito por mar e por terra, a fim de que os templos e todos aqueles que habitam na terra possam estar em segurança; e que tendo ido a Lycopolis, no nomo de Busirite, com um abundante arsenal e outras provisões, para constatar e dissipar o descontentamento provocado por homens ímpios que perpetraram danos aos templos e a todos os habitantes do Egito, ele a circunvalou de pequenas colinas, canais e complicadas fortificações; quando o Nilo, que habitualmente inunda as planícies, teve uma grande cheia no oitavo ano do seu reinado, ele a evitou construindo em numerosos locais desvios para os canais, por um custo irrisório, e confiando a guarda desses locais à cavalaria e à infantaria, em pouco tempo, ele tomou de assalto a cidade e matou todos os homens ímpios, tal como o fizeram Thoth e Hórus, o filho de Ísis e Osíris, em tempos passados, para subjugar os rebeldes no mesmo distrito; e como seu pai havia feito com os rebeldes que haviam molestado a terra e lesado os templos, ele veio a Mênfis para vingar seu pai e sua própria realeza e os puniu como eles mereciam; aproveitando-se de sua vinda, ele fez executar as cerimônias adequadas da sua coroação;
e considerando que ele dispensou o que era devido à coroa pelos templos até o seu oitavo ano, não exigindo sequer uma pequena quantidade de milho ou dinheiro; e que fez descontos também nas multas para os tecidos de linho fino não entregues à coroa e para os que foram entregues diminuiu as taxas pelo mesmo período; e que ele também isentou os templos do imposto de uma medida de grão para cada medida de terra sagrada e, da mesma forma, de uma jarra de vinho para cada medida de terra dos vinhedos;
e considerando que ele fez muitas oferendas a Ápis e a Mnevis e aos outros animais sagrados do Egito, pois ele é muito mais preveniente do que os reis que o precederam com relação a tudo que lhes dizia respeito; e que para seus funerais ofertou o que era conveniente com prodigalidade e fausto, e que o que foi pago aos seus santuários específicos o foi regularmente, com sacrifícios e festivais e outras observâncias costumeiras, e que ele manteve a honra dos templos do Egito de acordo com as leis; e que ornou o templo de Ápis com um rico trabalho, dispendendo com isso grande quantidade de ouro, prata e pedras preciosas;
e considerando que ele fundou templos e santuários e altares e reparou aqueles que necessitavam de reparo, tendo o espírito de um deus benfeitor no que diz respeito à religião;
e considerando que, após levantamento, ele vem reconstruindo, durante seu reinado, os mais honoráveis dos templos, como se fazia necessário;
em recompensa pelo que os deuses lhe têm dado saúde, vitória e poder, e todas as demais coisas boas, e ele e seus filhos permanecerão na prosperidade por todos os tempos.
COM FORTUNA PROPÍCIA:
Foi decidido pelos sacerdotes de todos os templos da terra aumentar grandemente as honras devidas ao Rei PTOLOMEU, ETERNO, O BEM AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, igualmente as de seus pais, os Deuses Filopatores, e as de seus ancestrais, os Grandes Evergetes e os Deuses Adelphoi e os Deuses Sóteres e colocar no local mais proeminente de cada templo uma imagem do ETERNO REI PTOLOMEU, O BEM AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, que será chamado simplesmente "PTOLOMEU, o defensor do Egito", ao lado do qual deverá permanecer o deus principal do templo, entregando-lhe a cimitarra da vitória, e tudo será fabricado segundo os usos e costumes egípcios; e que os sacerdotes prestarão homenagem às imagens três vezes por dia, e colocarão sobre elas as vestimentas sagradas, e executarão outras devoções habituais como são devidas aos demais deuses nos festivais egípcios;
e construir para o rei PTOLOMEU, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, descendente do Rei Ptolomeu e da Rainha Arsinoe, os deuses Filopatores, uma estátua e um santuário de ouro em cada um dos templos, e colocá-lo na câmara interior com os outros santuários; e nos grandes festivais nos quais os santuários são levados em procissão, o santuário do DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO será levado em procissão junto com os demais.
E para que ele possa ser facilmente reconhecido agora e para todo o sempre, deverão ser colocadas sobre o santuário dez coroas reais de ouro, às quais será acrescida uma naja, à semelhança de todas as coroas ornadas com najas que estão sobre os demais santuários, no centro da coroa dupla que ele usava quando adentrou o templo de Mênfis para realizar as cerimônias de sua coroação; e na superfície que rodeia as coroas, ao lado da coroa acima mencionada, deverão ser colocados símbolos de ouro, em número de oito, significando que esse é o santuário do rei que uniu os países Alto e Baixo. E como o aniversário do rei é celebrado no 30º dia de Mesore e como também se celebra o 17º dia de Paophi, dia em que ele sucedeu a seu pai, esses dias foram considerados como dias de devoção nos templos, pois eles são fontes de grandes bençãos para todos;
e foi decretado ainda mais que um festival terá lugar nos templos por todo o Egito nesses dias de cada mês, acompanhados de sacrifícios e libações e todas as cerimônias costumeiras dos outros festivais e oferendas serão feitas aos sacerdotes que servem nos templos. E um festival terá lugar em honra do Rei PTOLOMEU, ETERNO, O BEM AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, anualmente, nos templos por todos os cantos da terra no 1º dia de Thoth durante cinco dias, durante os quais eles usarão guirlandas e executarão sacrifícios e libações e outros sacramentos habituais, e os sacerdotes de cada templo serão chamados os sacerdotes do DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO e mais os nomes dos outros deuses que eles servem; e seu sacerdócio será inscrito sobre todos os documentos oficiais e será gravado nos anéis que eles usam;
e os particulares serão também autorizados a assistir os festivais e a instalar o santuário supra-mencionado em suas casas; executar as celebrações supra-mencionadas anualmente, a fim de que todos e cada um possa saber que os homens do Egito exaltam e honram o DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, o rei, de acordo com a lei.
Este decreto será inscrito sobre uma estela de pedra nos caracteres sagrados e nativos e gregos e será erigida em cada um dos templos de primeiro, segundo e terceiro graus, ao lado da imagem do Rei Eterno

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Shaduf O que é?

O Shaduf O Shaduf O Shaduf O Shaduf O Shaduf O Shaduf O Shaduf O Shaduf O Shaduf O Shaduf O Shaduf



Os egípcios gostavam imensamente de cultivar jardins. Seja na cidade ou no campo, os proprietários empenhavam-se em possuir uma área bem cuidada onde produziam frutas e legumes. A horta era dividida em áreas quadrangulares. Regos que se cortavam perpendicularmente separavam os quadrados. Até o Império Médio tais regos eram enchidos por meio de jarras redondas de cerâmica, o que significava um considerável trabalho. A invenção do shaduf representou extraordinário progresso.
Pierre Montet assim descreve o artefato: Cravava-se na terra, à beira da água, um grosso pilar vertical mais ou menos duas vezes mais alto do que um homem. Uma árvore em forcado podia servir também, se se encontrasse em bom sítio. Instalavam nesse tronco uma vara comprida de modo a que pudesse oscilar nos dois sentidos. Na extremidade mais grossa da vara estava encavada uma grande pedra. Um recipiente de tela, ou de cerâmica, encontrava-se suspenso da extremidade mais fina por uma corda. O homem fazia descer a corda para encher o recipiente e depois erguia-o, despejava-o num rego e recomeçava.

Sabe-se de casos de jardins nos quais até quatro shadufs funcionavam ao mesmo tempo. Tais máquinas primitivas tinham bom rendimento, tanto é assim que foram empregadas sempre, inclusive nos dias atuais. Ao que parece, no Império Novo seu uso era reservado à irrigação dos jardins e não para os trabalhos nos campos.

A ilustração acima é uma aquarela feita a partir de uma pintura mural, hoje destruída, de um túmulo em Tebas. À esquerda vê-se a casa do proprietário, com degraus dando acesso ao pórtico.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Anarquismo

.

Anarquismo

..

,.

Anarquismo (literalmente "sem poder")

Movimento político que defende uma organização social baseada em consensos e na cooperação de indivíduos livres e autónomos, mas onde à partida sejam abolidas entre eles todas as formas de poder. A Anarquia seria assim uma sociedade sem poder, dado que os indivíduos de uma dada sociedade, se auto-organizariam de tal forma que garantiriam que todos teriam em todas as circunstâncias a mesma capacidade de decisão. Esta sociedade, objecto de inúmeras configurações, apresenta-se como uma "Utopia" (algo sem tempo ou espaço determinado). É um ideal a atingir.

As origens do anarquismo, entroncam directamente na concepção individualista dos direitos naturais defendida por John Locke. A sociedade para este filósofo inglês era o resultado de um contrato voluntário acordado entre individuos iguais em direito e em deveres. No entanto foi só a partir do final do século XVIII que o anarquismo se veio a estruturar como uma corrente política autónoma, com seguidores em toda a parte do mundo. Entre os seus teóricos contam-se pensadores tão diversos como William Godwin (1773-1836), P.J.Proudhon (1809-1865), Bakunine (1814-1870), Kropotkin (1842-1921) ou o português Silva Mendes.

A intervenção política dos anarquistas, pouco inclinados à constituição de grandes organizações, embora muito dispersa tem historicamente se centrado a sua luta na defesa de seis ideias:

1. Direitos Fundamentais dos Indivíduos. Os anarquistas, como os liberais foram os primeiros retirar das ideias de John Locke profundas implicações politicas. Em primeiro lugar a ideia da primazia do indivíduo face à sociedade. Em segundo, a ideia de que todo o indivíduo é único e possui um conjunto de direitos naturais que não podem ser posto em causa por nenhum tipo de sociedade que exista ou venha a ser criada.

2. Acção Directa. Recusando por princípio o sistema de representação, os anarquistas afirmam o valor da acção directa do indivíduo na realidade social. Este conceito foi interpretado no final do século XIX/princípios do século XX, por alguns anarquistas, como uma forma de actuação política, cometendo assassinatos de figuras políticas que diziam simbolizarem tudo aquilo que reprovavam ( a célebre propaganda por factos).

3. Crítica dos Preconceitos Ideológicos e Morais. Uma das suas facetas mais conhecidas pela sua crítica irreverente à sociedade. Com a sua crítica demolidora dos preconceitos sociais pretendem destruir todas as condicionantes mentais que possam impedir o indivíduo de ser livre e de se assumir como tal.

4. Educação Libertária. Os anarquistas viram na educação um processo de emancipação dos indivíduos, acreditando que por esta via podiam lançar as bases de um nova sociedade.

5. Auto-organização. Embora recusem qualquer forma de poder, a maioria dos anarquistas não recusa a constituição de organizações. Estas devem contudo ser o resultado de uma acção consciente e voluntária dos seus membros, mantendo entre eles uma total igualdade de forma a impedir a formação de relações de poder (dirigentes/dirigidos, representantes/representados, etc). É por esta razão que tendem desconfiar ou combater, as grandes organizações porque nelas a maioria dos indivíduos tendem a ser afastados dos processos de decisão. Os anarquistas estão desde o século XIX ligados à criação de sociedades mutualistas, cooperativas, associações de trabalhadores (sindicatos e confederações, etc), ateneus, colónias e experiências auto-gestionárias. Em todas estas formas de organização procuram em pequena ou grande escala ensaiar a sociedade que preconizam.

6. Sociedade Global. Um dos seus grandes ideais foi sempre a constituição de uma sociedade planetária que permitisse a livre circulação de pessoas ou o fim das guerras entre países. É neste sentido que alguns anarquistas, como P. Kropotkin, viram no desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação um meio que poderia conduzir ao advento da Anarquia.

A defesa destas ideias tem caracterizado o movimento anarquista internacional, ao longo dos seus duzentos anos de existência.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Candaces - Rainhas mães

- CANDACES
"Falar de Candace ... É preciso olhar pra trás para ir pra frente. Porque atrás de nós tem um espelho e é nele que está nossa cara verdadeira. Nosso espelho é um espelho de Rainhas. Rainhas-Mães, Rainhas Guerreiras. Candaces. Somos herdeiros dessas Rainhas, temos a fala de nossos ancestrais". (Trecho da peça Candaces – A Reconstrução do Fogo)

A partir desta inspiração inicial, o Salgueiro vem desvendar em seu enredo a história das Candaces, dinastia de rainhas da África Oriental que comandaram, antes da era cristã, um dos mais prósperos impérios do continente.
Mais do que uma linhagem de rainhas, Candace torna-se um conceito, através do qual a força da mulher negra se faz presente em lutas, conquistas e no legado matriarcal que venceu o tempo e as distâncias.

Baseados em mitos e episódios históricos, vimos reverenciá-las na forma mais viva de manifestação cultural do nosso país. Pedimos licença, bênção e proteção para apresentar a saga de mulheres africanas e afro-descendentes que mantêm em comum o laço de soberania real e espiritual sobre seus povos, estabelecendo um elo imaginário de ascendência e descendência com as rainhas Candaces, personagens centrais do nosso enredo.

As Mães Feiticeiras

Do grande continente africano trazemos não só a origem, mas também toda uma crença ancestral que exalta a figura feminina como a grande provedora que principiou a vida do Homem.

Um desses mitos conta que no início de tudo, ligadas às origens da Terra, havia as Mães Feiticeiras. Donas do destino da humanidade, elas eram o ventre do mundo.
Conhecedoras dos segredos da vida, continham em si a capacidade de manipular os opostos e, assim, manter o equilíbrio do universo. Traziam consigo a força criadora e criativa do planeta. Raízes de um misticismo que abrigava
em sua sabedoria a dualidade do cosmos, detinham o poder sobre a vida e a morte, o bem o mal, o amor e a cólera, o princípio e o fim.
As Ascendentes Candaces
Do mito à história, através do exemplo de duas grandes rainhas da Antigüidade, exaltamos o comando de mulheres negras sobre seus povos. Assim, evocamos a primeira ascendente Candace: Mekeda, ou Rainha de Sabá.
Reino das mil fragrâncias, confluência das culturas árabe e africana, Sabá era uma terra rica e mantinha uma sociedade matrilinear, em que o poder era passado aos descendentes pela via feminina. Ali viveu a exuberante Rainha Negra. Atraída pela fama de riqueza e sabedoria que envolvia Salomão, o rei dos judeus, Mekeda adentrou Jerusalém com uma comitiva de camelos, levando uma infinidade de aromas e grande quantidade de ouro e pedras preciosas. Desse encontro nasceu a reverência à mulher que cativou com beleza, inteligência e diplomacia um dos soberanos mais importantes de sua época.

Do Oriente, rumo ao império dos faraós, surge mais um exemplo do poder feminino negro. Nefertiti reinou no Egito por mais de uma década durante o apogeu de uma civilização que iria influenciar toda a humanidade. Reverenciada por sua beleza, governou ao lado de Amenófis IV (Akhenaton) com status equivalente ao dele. Juntos, implementaram reformas culturais e religiosas, dentre elas o culto ao Deus Sol Aton. Foi imortalizada em templos mais do que qualquer outra rainha egípcia.


Candaces
Ao sul do Egito, banhado pelo Nilo, havia o Império Meroe. Era governado por uma dinastia de soberanas negras que exerciam o poder civil e militar. Imortalizadas pela história como Candaces, estas bravas guerreiras nasceram sob o signo da coragem para ocupar posição de poder e prestígio. Numa forma de conexão com as tradições matriarcais da África, reinavam sobre seu povo por direito próprio, e não na qualidade de esposas.

Viviam o apogeu de uma era de esplendor e fartura, abençoadas pelo grande rio e impulsionadas pelo comércio com o Oriente Médio. A localização do império permitia um intenso intercâmbio com outros povos - hebreus, assírios, persas, gregos e indianos. Em suas terras, ricas em ferro e metais preciosos, ergueram-se pirâmides e fortalezas.

Seus exércitos usavam armas de ferro e cavalaria, ferramentas e habilidades herdadas dos povos núbios, que lhes davam vantagem no campo de batalha. A idolatria daquela civilização pelos cavalos era tanta que estes animais eram enterrados junto com seus guerreiros, para servi-los por toda a eternidade. Esta imagem, misto de homem e cavalo, alcançou a Grécia, inspirando o surgimento da figura mitológica do Centauro. Na religião, cultuavam Apedemek, Deus da guerra e da vitória, representado por um homem com cabeça de leão.

A prosperidade de Meroe, que deu prosseguimento ao domínio Núbio na região, atraiu a ira dos senhores do mundo, o Império Romano. Aqui tem início o episódio que marcou a história das Candaces.

Líderes de um movimento de resistência contra o poderio bélico dos invasores, enfrentaram o forte exército, aliando técnicas de guerrilha e diplomacia. Uniram seu povo na luta contra o jugo romano movidas pela sede de justiça e liberdade.

Após a invasão de Petronius, a Rainha Candace esperou que as tropas do general adormecessem e os surpreendeu com um ataque. Este movimento abriu a possibilidade para uma negociação diplomática, comandada pela soberana negra. O resultado foi a retirada dos soldados romanos e a demarcação do território de Meroe, devolvendo a paz ao seu povo. Assim foi escrito o mais importante episódio que marcou a nobre dinastia de guerreiras naquele império africano.

Mas os exemplos de comando e resistência de bravas negras continuaram a florescer por outras eras e civilizações. Para além de seus próprios domínios, emergiu a saga das Candaces, Rainhas Mães que se fizeram deusas, reinando na crença de suas descendentes espalhadas pela Terra, porta-vozes da sua luta por toda a história.


As Descendentes
Várias luas se ergueram e se puseram no céu do continente negro. Um dia, rainhas e princesas de tribos e reinos se viram obrigadas ao trabalho forçado no novo mundo. Mas foi ali que fizeram multiplicar o sangue Candace. Em uma terra tão distante, ligadas ao passado, mulheres negras geraram o valor da bravura herdada de suas ancestrais.

A palavra liberdade ganhou um significado mítico no Brasil, dando um novo sentido à vida levada entre a clausura e o trabalho forçado. A bravura da dinastia Candace foi eternizada pela tradição oral africana, que tratou de espalhar aos quatro cantos os grandes feitos das suas soberanas, inspirando a luta de guerreiras que subverteram a força dos seus senhores e lutaram pela liberdade.

Para elas, ser livre era também reverenciar seus costumes, reviver o passado soberano, encenar a memória dos seus antepassados. Em folguedos, foram eternizadas na glória real da corte negra. No novo continente, há o despertar para o misticismo trazido do outro lado do Atlântico. A construção da identidade africana no Brasil encontra nas celebrações e ritos toda uma reverência à mulher como mediadora entre os deuses e a humanidade.

Na Bahia, as escravas ganhadeiras vendiam o excedente de produção em feiras e mercados como em sua terra natal. O lucro era poupado para comprar suas alforrias e a dos maridos, tornando-as mulheres com voz ativa. No chão brasileiro, era revivida a tradição das feiras iorubanas, um espaço não só para trocas de mercadorias, mas também para trocas simbólicas. A mulher concentrava o poder de fechar negócios, disseminar notícias, modas, receitas, músicas, e, sobretudo, aconselhar.

Assim, tornaram-se as grandes mães negras, sacerdotisas que tiveram suprimido o poder real na África, mas que passaram a exercer o poder espiritual no novo mundo.

Os elos entre arte e religião se tornaram mais fortes. As mães de santo se transformam em mães de samba. Tia Ciata, a mais conhecida, era respeitada por sua sabedoria religiosa. Celebrava os orixás em cerimônias em sua própria casa, que sucediam festas regadas a muita música, batuques e quitutes. Um misto de consagração da música e dos deuses afro-brasileiros.

Salve as Candaces do Candomblé, evocadas na saudação às entidades femininas.
Odoyá, Iemanjá!, rainha das águas do mar;
Saluba, Nanã!, deusa da Terra;
Eparrei, Iansã!, senhora dos raios;

Orayê-yê o, Oxum!, guardiã da beleza e do amor;
Oba-xi, Obá!, senhora das águas revoltas.
Celebração de religião e do puro prazer de dar ao corpo o gingado malemolente, fruto da persistência destas rainhas, sacerdotisas, baianas, pastoras, mães negras do carnaval.


A Imortalidade
Mulher. Negra. Gênero e raça. São as Candaces dos nossos dias, herdeiras do laço afro e da missão de semear esperança na Terra. Provedoras da força que nos acompanha desde os primeiros passos. Detentoras do relicário da arte em prol do coletivo.

Majestade, soberana, guardiã da sagrada chama da vida, dona do carnaval. Derrama teu talento ao interpretar a história da raça; enfeitiça os sentidos com tua beleza negra, libertando corpo e alma. Eleva-te ao panteon das matriarcas ancestrais da África e invoca a Candace dentro de ti. Resgata a força feminina das guerreiras imortais, Rainhas Mães de todos os tempos, para abençoar e iluminar teus filhos, emanando o Axé, poder vital da bondade e do afeto, energia que comanda o mundo.

Hoje, recontamos as glórias de quem um dia cumpriu seu destino e fez história, revivida sempre que alguém invocar teu nome. Salve as Candaces! Raça e gênero num só coração.

domingo, 29 de maio de 2011

A fabricação do rei

A contrução da imagem pública do rei -


Dizia Montesquieu que "o esplendor que envolve o rei é parte capital de sua própria pujança". Mais do que um elogio, a consideração sintetiza particularidades da monarquia, ou mesmo, a dimensão simbólica presente em qualquer tipo de poder público e político. Com efeito, se é só a realeza que introduz o ritual em meio à sua lógica formal e no corpo da lei, pode-se dizer, porém, que não há sistema político que abra mão do aparato cênico, que se conforma tal qual um teatro; uma grande representação.

Seguindo essas pistas, Marc Bloch, em ensaio pioneiro sobre as mentalidades, datado de 1924, analisava o fenômeno do toque real — o caráter maravilhoso dos reis taumaturgos —, demonstrando como se devia atentar antes para a expectativa coletiva do milagre, do que para o milagre em si.

Norbert Elias, por outro lado, acentuou a importância da etiqueta no interior do Antigo Regime, encontrando uma lógica que nada tinha a ver com o mero adereço, ou com a idéia da existência de vogas aristocráticas luxuosas e sem sentido. Na verdade, não foram poucos os autores que, partindo de eixos e perspectivas diversas, destacaram a relevância do ritual na efetivação do poder, no caso monárquico. Autores como Starobinski, com a análise dos símbolos da realeza, Kantorovicz, com a demonstração do corpo duplo do rei, e ainda C. Geertz, que em Negara demonstrou como em Bali não existiam cisões entre realidade e representação, revelaram as potencialidades do tema e os vínculos entre lógica racional e lógica simbólica.

Na verdade, essas e outras obras têm destacado, a partir de ângulos diversos, como as vestes, os objetos, a ostentação e os rituais próprios da monarquia são parte essencial desse regime, constituem sua representação pública e, no limite, garantem sua eficácia. Como diz o dito popular "rei que é rei não perde a realeza" e se a perde — digamos assim — é cada vez menos rei.

É dessa figura pública, conscientemente construída, que trata o livro A fabricação do rei, de Peter Burke. Seu objeto formal é a famosa personagem de Luis XIV, o Rei-Sol, que reinou durante 72 anos e se transformou quase em um emblema da monarquia absoluta européia, tão marcada pelo luxo e por demonstrações de riqueza. A esse soberano atribui-se a "domesticação da nobreza" a partir da invenção, a um só tempo, da propaganda, da etiqueta e da corte. Claro que todas essas realidades existiam antes de Luis XIV, mas é com esse rei que mudam de lugar e de patamar. Os costumes são regulados, a vida fica, para esse estamento, mais pacífica e prazerosa tendo a corte como centro.

Mas Burke faz mais do que só retomar essas teses, já muito tratadas pela historiografia, sobretudo, européia. A novidade está em integrar todos esses elementos e mostrar como os monarcas foram os inventores do "marketing político" e que nesse sentido fizeram escola. No centro de sua análise está a noção de estratégia, na qual a propaganda surge como meio de assegurar a submissão ou o assentimento a um poder. Com esse monarca a glória, a vitória , o prestígio e a grandeza transformam-se em imagens suficientemente fortes para garantir a estabilidade do reino e imaginar sua permanência futura. É por isso mesmo que Burke revela-se mais preocupado com a interpretação do que com o acontecimento, procura o "mito" que envolve o rei e não tanto sua "realidade", privilegia a imagem em detrimento do homem. O resultado é um Luis XIV envolto por biógrafos, artistas, artesãos, alfaiates, escultores, cientistas, poetas, escritores e historiadores; todos unidos em torno de um só propósito: fazer do rei um exemplo, um símbolo público da glória; uma representação fiel de Deus na terra.

Elaborada tal qual um grande teatro, um teatro do Estado, a atuação do rei se transforma em performance; os seus trajes viram fantasia. Na verdade, esculpida de maneira cuidadosa, a figura do rei corresponde aos quesitos estéticos necessários à construção da "coisa pública". Saltos altos para garantir um olhar acima dos demais, perucas logo ao levantar, vestes magníficas mesmo nos locais da intimidade; enfim, trata-se de projetar a imagem de um homem público, caracterizado pela ausência de espaços privados de convivência. Tal qual um evento multimídia, o rei estará presente em todos os lugares, será cantado em verso e prosa, retratado nos afrescos e alegorias, recriado como um Deus nas estátuas e tapeçarias.

Senhor de um ritual cujo controle é por princípio impecável, o monarca transforma seu exercício diário numa grande dramatização, equilibrando-se no poder por meio da concessão alargada e programada de títulos, medalhas e privilégios. Dádivas que carregam a imagem do líder, esses rituais de consagração da monarquia acabam ajudando a cultuar e estender a própria personalidade do rei, que dessa forma paira muito acima de seus súditos.

Exemplo radical do exercício e da manipulação simbólica do poder, a realeza evidencia, com sua etiqueta, a importância do ritual na construção da imagem pública. A monarquia é, nesse sentido, um bom pretexto para a discussão dos vínculos entre política e manipulação do imaginário simbólico, ou mesmo para a verificação de como política se faz com a lógica da "razão prática", mas também, com a força de persuasão da "razão simbólica". Afinal, foi Pascal quem concluiu que "as cordas que atribuem o respeito a este ou àquele em particular, são as cordas da imaginação". Prática de alguma forma datada, o ritual suntuoso da monarquia deixa ainda mais evidente como a propaganda e a política mantiveram sempre relações de profunda e estreita afinidade. Mas nada como terminar com uma boa provocação. Resta refletir acerca não só da lógica desses processos abertamente manipulados, mas sobre a releitura desse mesma publicitação da imagem do governante. Se Peter Burke equaciona e descreve, de forma detalhada, os mecanismos conscientes de construção da figura do rei, escapa-lhe a compreensão da dimensão mais sacralizada dessa representação, que dialoga não só com o contexto imediato, mas também reitera uma viagem mais longa, rumo à "longa duração".

Nesse itinerário escapa a intencionalidade e fica a reelaboração de códigos, valores e, sobretudo, cosmologias, como diz Marshall Sahlins a respeito do encontro entre havaianos e ingleses no contexto colonial. Assim como o Capitão Cook não morria, apenas, como um viajante ocidental, mas como "um lôno burguês"; também na releitura de Luis XIV são muitas as possibilidades de interpretação. Se a leitura sob o viés da elite permite prever a glorificação do monarca e a dimensão política da manipulação da nobreza, seria possível, porém, analisar com mais cuidado como o imaginário pode ser objeto de controle, mas de que maneira, muitas vezes esse, simplesmente, lhe escapa.

Na obra de Burke as visões da corte acerca da monarquia estão todas presentes e retratadas, mas não se nota qual é a fonte em que se nutre esse mesmo imaginário. Afinal, quando uma propaganda é, de fato, eficiente, ela faz sentido para aqueles que a criam, mas, também, para os elementos que se constituem em seu foco virtual. Estamos falando do imaginário popular que surge como "produto e produção" nesse processo de invenção do rei? Dessa maneira, se é possível ver, sob essa fresta, o uso estratégico da realeza, passam ao largo, nesse livro, os mecanismos que revelam como se mantém e se aguça a leitura divina do corpo do rei. Nesse caso as respostas não estarão, com certeza, restritas ao circuito da corte.

Nesse sentido, é bom que se diga, uma certa áurea encobre a figura do monarca; de qualquer monarca. Figura destacada em sua representação, o soberano é, normalmente, definido, por seu "corpo duplo". O primeiro deles é mortal e, assim sendo, assemelha-se ao de todos os seus súditos: sofre com as vicissitudes das tristezas, vícios e alegrias comuns à humanidade. O segundo, sacralizado, representa o corpo divino do rei, aquele que justamente se separa dos demais; o que não morre jamais. Assim, como se podem notar os usos políticos dessa figura, tal verificação não dá conta do "outro corpo do rei", objeto de uma leitura popular alimentada para além do contexto mais imediato da elite e do estamento da nobreza.

Não se manipula no vazio e quando isso ocorre é a própria manipulação que tende a sobrar como uma fala sem lugar. Local do exercício do maravilhoso, a monarquia sempre associou, em momentos diferentes, olhares mais sincrônicos a leituras diacrônicas. Não se faz "propaganda" só no presente; ou melhor, vai-se ao passado buscar matéria para o presente. Mas essa é mesmo uma longa discussão. Quem sabe valha a pena voltar à velha definição de F. Boas, que afirmou ser "o olho que vê, o órgão da tradição". Se a lógica da publicidade é centrada no jogo da "emissão", que é sempre unívoca, engana-se aquele que acredita que a "recepção" é, pelo mesmo motivo, previsível e uniforme. Novas perguntas recortam universos distintos, quando percebemos que, de alguma maneira, somos todos um pouco "míopes culturais". As culturas impõem grades de leitura que revelam como os homens não são papéis em branco, que respondem sempre de forma previsível e idêntica.

O terreno do imaginário e das mentalidades é, pois, um local que não se define apenas pela via da análise política e intencional. Nada como recorrer à noção estrutural de símbolo, que não se limita a uma leitura realista e imediata, mas busca uma eficácia que é sempre relativa. "Significar é estabelecer relações", diz Claude Lévi-Strauss, como a alertar que nesse processo alteram-se razões mais imediatas, com lógicas "que falam — mesmo — entre si".

D. Pedro II

D. Pedro II

Imperador brasileiro de 1840 a 1889. Nasceu em 2 de dezembro de 1825 no Palácio Imperial de São Cristóvão, no Rio de Janeiro e foi batizado como Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocácio Miguel Rafael Gonzaga e Bragança, sétimo filho de D. Pedro I (1798 – 1834) e da imperatriz D. Leopoldina (1797 – 1826).

Em 1831, após a abdicação de D. Pedro I, motivado pelo seu autoritarismo e interesses na sucessão portuguesa, Pedro de Alcântara foi aclamado Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, ficando aos cuidados de José Bonifácio de Andrada e Silva, substituído pelo Conde Itanhaém, Manuel Inácio de Andrada Souto Maior.

Na infância, ficou recluso na Corte Imperial protegido das agitações que dominavam o Período Regencial, submetido a uma rotina rígida em horários e estudos como a escrita, aritmética, geografia, desenho, francês, inglês, música e dança. Sua educação foi refinada, tendo como professores Candido de Araújo Viana (Marques de Sapucaí) frei Pedro de Santa Mariana, que o iniciou os estudos de direito constitucional, do bibliotecário Roque Schuch, ou de Felix Emilio Taunay, diretor da Imperial Academia de Belas-Artes, dotando o imperador de sólida base intelectual.

Através do palaciano Golpe da Maioridade, desfechado em 23 de julho de 1840, foi declarado apto para assumir o trono aos 14 anos, ao invés de 18 como exigia a Constituição de 1824. Uma vez empossado encontrou um país com províncias dispersas sem comunicação entre elas, onde as rebeliões ameaçavam a unidade territorial do grandioso império; com uma organização jurídica, administrativa e bancaria deficitária; com uma economia baseada na monocultura escravista e uma divida externa de 5.580.400,00 libras esterlinas.

Começou seu mostrando personalidade, preparo e responsabilidade para o cargo ao qual foi encarregado, conduzindo a política com maestria com os atributos do Poder Moderador. Nos anos de 1850 foi visível sua obra no país:

· 1850: Lei de Terras; Código Comercial; repressão ao trafico de escravos com a lei Eusébio de Queiros; criação da província do Amazonas;

· 1852: Reforma da legislação Judiciária, das forças armadas, do corpo diplomático, do ensino e da administração; inauguração do telegrafo (em 1889 haviam 19.000 linhas integrando quase todo o país);

· 1854: construção da primeira estrada de ferro, ligando Rio de Janeiro a Minas Gerais.

Para governar promoveu a “Política da Conciliação”, onde procurou reunir em seu governo políticos de ambos os partidos da época (Liberal e Conservador) afinados com os interesses do Estado, para um desenvolvimento conservador e no uso do poder Moderador, que dava mais poderes aos outros três poderes executivo, legislativo e judiciário, escolhendo até os primeiros-ministros para o governo. Impôs sua autoridade em todas as esferas de poder e nas instituições do governo imperial sem, contudo, ser autoritário. Os políticos contrários à centralização do poder em suas mãos declararam o chamado Teatro de Sombras, onde tudo era controlado por sua “mão invisível”.

Na fala ao trono no ano de 1871, apresentou o pedido que culminou na aprovação da Lei do Ventre Livre (28 de setembro de 1871) e, de forma astuta, ausentou-se do país e colocou sua filha, Dona Isabel, como regente, preparando-a para sucedê-lo. Dessa forma evitou acusações de interferência nas votações da Assembléia. A mesma estratégia foi feita na Lei dos Sexagenários (28 de setembro de 1885) e a Lei Áurea (13 de maio de 1888).

Foi aclamado pelos mais humildes como herói ao se alistar como “voluntário número um” na guerra contra Solano Lopes, e ao defender a honra brasileira diante dos abusos diplomáticos do embaixador inglês Willian Christie, a chamada Questão Christie (1863 – 1865), rompendo relações diplomáticas com a Inglaterra.

Durante a Guerra do Paraguai (1864 – 1870), Zacarias de Góes, Liberal, criticou D. Pedro por recusar a demissão do Comandante-em-chefe, Marques de Caxias. A resposta veio com a dissolução de seu ministério, empossando outro ministério liderado pelo Partido Conservador.

A imagem que ficou no imaginário brasileiro e no exterior foi a do “Rei-filósofo”, amante das ciências e das artes. Essa imagem foi construída pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Inaugurado em 1 de dezembro de 1838, com a finalidade de dar um passado para o Brasil, reunindo e publicando os documentos necessários para a escrita de nossa historia. O principal patrocinador foi Pedro II, aclamado com o titulo de “protetor do IHGB”. Ele participou ativamente das reuniões, contribuindo para a construção de sua própria imagem. Sua influência foi decisiva ao propor temas, prêmios e apoio financeiro para a expansão de suas atividades. Apoiou ainda a produção de trabalhos inéditos pelo instituto, sendo explicito os temas de seu agrado. O pintor Pedro Américo (1843 – 1905) foi o grande beneficiado do monarca, que o eternizou em seus quadros a figura do representante dos interesses do povo e da nação na Assembléia e no mundo.

Pessoalmente fiscalizou todos os exames aplicados e a qualidade da comida servida no Colégio Pedro II. Misturou-se ao povo, fez audiências públicas aos sábados e encontrou-se com pessoas de fora da corte, como o príncipe negro D. Obá, dispensando todos os protocolos. Quando veraneou em Petrópolis, passeou a cavalo pela cidade e comeu frutas no mercado misturado ao povo. Vestiu com simplicidade, usando um jaquetão preto.

O país testemunhou uma paz interna; o nascimento da industrialização, com destaque ao Barão de Mauá, prejudicado pela concorrência inglesa, e o crescimento da nova fonte de riqueza, o café, que expandia-se pelo Vale do Paraíba e Oeste Paulista.

Após 1870 a monarquia entrou em declínio, influenciado pelo crescimento do movimento republicano, o insolúvel problema da mão-de-obra escrava tendo o seu conhecido desfecho, as questões sociais em função dos escravos libertos por lutarem na Guerra do Paraguai que encontravam suas famílias ainda escravizadas, a politização das forças armadas e a crise ideológica com a Igreja, suas principais bases de apoio.

O Exército politizou-se com a Guerra do Paraguai, percebendo sua importância. Mas tal questionamento foi repreendido pelo governo. Assim o Exercito retirou seu apoio, voltando-se para as idéias positivistas. A Igreja encontrou-se subordinada ao monarca pelo sistema do padroado, onde o Catolicismo foi a única religião permitida, mas obedecia ao Rei. Uma ordem do papa para proibir o casamento de maçons não foi seguida pelo Imperador, maçom. Questionando as decisões do império, a Igreja sofreu com prisões de Bispos, retirando seu apoio. Os fazendeiros cafeicultores utilizavam mão-de-obra escrava africana nas lavouras. Uma vez libertada sua força de trabalho, os fazendeiros retiram seu apoio ao Império. Assim a Monarquia Brasileira não caiu, foi abandonada.

Apoiando-se na sua decadência as sátiras políticas, como de Ângelo Agostini (1843 – 1910), o representavam como um velho caduco que não percebia os fatos que aconteciam pás suas costas. De fato, nos últimos anos de seu governo, a Princesa Isabel era quem executava as leis em seu lugar. A essa altura, a República já se tornara em séria ameaça.

O baile organizado na Ilha Fiscal em 9 de novembro de 1889, em homenagem a uma missão chilena, ficou para a História como o Baile da Despedida, por ser o último antes da proclamação da República. Nesse baile o imperador, mau das pernas teria escorregado e antes de alguém segura-lo, ergueu-se novamente dizendo: “Vêem, a monarquia escorregou, mas não caiu”. Pedro II ficou até uma hora da manhã, logo depois, rumores sobre prisões de militares teriam dominado o assunto na ilha. Dias depois, a 15 de novembro de 1889, caiu o último imperador brasileiro com a Proclamação da República pelo, seu então amigo, Marechal Deodoro da Fonseca.

O governo provisório republicano obrigou toda a família imperial a sair do país em 24 horas. Na madrugada do dia 16, o velho monarca recusou-se a embarcar para o exílio, mas foi convencido para evitar derramamento de sangue.

Partiu para Portugal, onde a Família Bragança ainda reinava, virando refúgio dos monarquistas. Ficou tempo o bastante para visitar o túmulo de seu pai e algumas universidades. Em 28 de novembro de 1889 morreu sua mulher. Mudou-se para a França acompanhado de toda a família, vivendo da boa vontade de seus súditos leais. Recusou uma pensão concebida por Deodoro da Fonseca, a quem foi amigo e depois proclamou a República, em troca do fim de seu banimento. Esperou a venda de seus bens no Brasil.

Com a diabetes avançada, tratou-se nas estações hidrominerais de Vich e Baden-Baden. Afastou-se dos assuntos políticos para dedicar-se a cultura. E desencorajou os movimentos para a restauração da monarquia, temendo uma guerra civil. No exílio virou cidadão comum, assinando Pedro de Alcântara. Em Cannes ocupou-se dos estudos de línguas e literaturas estrangeiras; freqüentou conferencias, museus e academias, fez passeios sempre vestindo seu jaquetão preto, ofuscando a sua importância política. Escreveu Fé e Oficio em 28 de maio de 1891, considerado seu testamento político, que relembrando seus feitos e intenções para o Brasil.

Em dezembro de 1891 contraiu uma pneumonia após um passeio de carro pelas gélidas ruas de Paris. Não resistiu. Com apoio do governo francês, seu funeral foi realizado com grande apoteose, corpo embalsamado e honras só concedidas às famílias reais européias, recuperando assim a majestade. Foi velado na França, passando pela Espanha e enterrado no Panteão Real, na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa. Finalmente retornou a sua amada pátria em 1921 e seus restos mortais depositados no Mausoléu da Catedral de Petrópolis, cidade que mandou construir.

A herança principal de D. Pedro II foi a consolidação de um Estado Nacional, pois a sua figura simbolizava a integridade nacional.

No plano externo projetou o país com sua participação em feiras científicas e como terceiro árbitro nos conflitos entre países. Um exemplo de sua importância nos meios cultos foi em 1876, na Filadélfia (EUA), quando atentou a comunidade cientifica para o aparelho supostamente inventado por Graham Bell, mostrando o alcance que teria o telefone no futuro ao dizer: “Meu Deus! Isto fala!”.

sábado, 26 de março de 2011

Japão / Atualidades

O Japão Pós-Guerra (1945…)
Ao final da II Guerra Mundial, o Japão estava devastado. Todas as grandes cidades (exceto Kyoto), as indústrias e as linhas de transporte foram severamente danificadas. As sobras da máquina de guerra japonesa foram destruídas. Cerca de 500 oficiais militares cometeram suicídio logo após a rendição incondicional, e centenas de outros foram executados por cometerem crimes de guerra.
O país perdeu todos os territórios conquistados desde 1894. As ilhas Ryukyu, incluindo Okinawa, foram controladas pelos Estados Unidos, enquanto que as ilhas Kurile, ao norte, foram ocupadas pela União Soviética. A escassez de suprimentos continuou ainda por vários anos. Afinal, a população havia crescido mais que 2,4 vezes em relação ao começo do período Meiji, contando com 85 milhões de pessoas.
O Japão permaneceu ocupado pelos Aliados por quase sete anos após a sua rendição. As autoridades de ocupação, lideradas pelos Estados Unidos, representados pelo general Mac Arthur, empreenderam diversas reformas políticas e sociais e proclamaram uma nova constituição em 1947, que negava ao estado o direito de reconstruir uma força militar e resolver impasses internacionais através da guerra.
As mulheres ganharam o direito de votar e os trabalhadores, de se organizarem e fazerem greves.
Pela nova constituição, o imperador perde todo o seu poder político e militar, passando a ser considerado meramente um símbolo do estado. O sistema de aristocracia foi abolido e em seu lugar entrou em vigor uma espécie de monarquia constitucional sob o controle de um parlamento. O primeiro ministro, chefe do executivo, deveria ser escolhido pelos membros da Dieta.
As relações exteriores, completamente interrompidas durante o período de ocupação americana, só foram retomadas a partir de 1951. Nesse ano o Japão assina o Tratado de São Francisco, que lhe dá o direito de resolver seus assuntos estrangeiros e lhe devolve a soberania. Todavia, o veto à manutenção de um exército é mantido. Além disso, o Japão é obrigado a pagar indenizações aos países vizinhos agredidos por ele durante a guerra.
A reabilitação econômica do país torna-se uma das maiores preocupações do povo e dos líderes japoneses a partir daí. Com o apoio dos Estados Unidos e de outros países, o Japão integra-se a várias organizações internacionais.
Inicialmente houve um período de instabilidade, mas com a Guerra da Coréia (1950-1953) o Japão tem a oportunidade de reconstruir sua economia nacional. Na década de 60, com o apoio dos acordos comerciais, o Japão torna-se uma das principais potências econômicas e políticas, suficientemente forte para competir com as maiores potências mundiais.
Com a Guerra Fria, os EUA posicionam mais tropas no Japão e estimulam a perseguição aos comunistas e a criação de forças para autodefesa. Essas idéias foram bem-vindas pelos conservadores, mas causaram protestos e insatisfação das classes populares, dos comunistas e socialistas.
Em 1969 os americanos abandonam cerca de 50 bases militares lá instaladas, devolvendo Okinawa três anos mais tarde. O Japão foi admito à ONU em 1956, e em 1960 renova tratados com os EUA. No mesmo ano as reparações aos países vizinhos são todas pagas. As Olimpíadas de Tóquio, em 1964, representam uma nova esperança para o povo japonês; no ano seguinte são estabelecidas relações formais com a Coréia. As desgastadas relações diplomáticas com a China são normalizadas em 1972. A partir de 1975, o país passa a integrar as conferências anuais com os sete países mais industrializados do planeta.
Em 1973 a crise do óleo abala a economia japonesa, que sofre um afrouxamento na expansão econômica e uma crise monetária. O primeiro ministro Kakuei Tanaka declara então “estado de urgência” para combater a crise. A reação da economia, tão dependente do óleo, foi o fortalecimento das indústrias de alta tecnologia.
A recuperação diplomática e econômica do país foi bastante auxiliada pela dominação no parlamento do conservador Partido Liberal Democrático (PLD), que dura até hoje.
A partir do começo da década de 90 o Japão firma-se como a segunda maior potência econômica mundial, acumulando saldos gigantescos no comércio exterior, principalmente nas relações comerciais com os Estados Unidos.

Atualidades / Líbia

Ensino Médio

Revoltas árabes
Gaddafi pode ser o próximo a cair
José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Atualizado 02/03/2011, às 8h22

Muammar Gaddafi é considerado o pior ditador no mundo árabe. Ele está há 41 anos no poder – é o mais longevo entre os governantes – e não hesitou em usar as Forças Armadas para reprimir protestos, que são proibidos na Líbia.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Agora, cada vez mais isolado, ele pode ser o próximo líder mulçumano a deixar o cargo por conta das manifestações pró-democracia que se espalharam pela África do Norte e o Oriente Médio. O movimento já derrubou dois presidentes, da Tunísia e do Egito, em menos de dois meses.

A queda de ditadores é algo inédito na história da região. Os países árabes são governados por monarquias ou ditaduras. O aumento no preço dos alimentos, o desemprego e a insatisfação dos jovens deram início às revoltas por abertura política. Os levantes chegaram a Bahrein, Marrocos, Iêmen, Jordânia, Irã e Arábia Saudita.

Na Líbia, o governo reagiu com violência. Quase 300 pessoas morreram em conflitos com forças de segurança desde o dia 16 de fevereiro. O ditador líbio chegou a usar aviões e tanques contra as multidões.

Os protestos começaram após a prisão de um advogado ligado à causa dos Direitos Humanos. O maior foco dos distúrbios é Benghazi, segunda maior cidade, localizada na região leste.

A cada dia a situação fica mais difícil para Gaddafi. Dentro do país, os revoltosos assumiram o controle de cidades no leste. Na região nordeste, militares aderiram à "revolução do povo". No exterior, a pressão diplomática é a cada vez maior para que ele deixe o poder.

Em um pronunciamento raivoso na TV, em 21 de fevereiro, o líder líbio, de 68 anos, desafiou os revoltosos e disse que iria “morrer como um mártir”. Antes, seu filho Saif al-Islam advertiu para o risco de guerra civil.

No dia 22 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU condenou o uso da violência contra manifestantes na Líbia e pediu a responsabilização dos culpados. A decisão deve ser seguida se novos embargos contra o regime.


Petróleo
A Líbia é um país rico em petróleo. É o quarto maior produtor da África, depois da Nigéria, Argélia e Angola, com reservas estimadas em 42 bilhões de barris (para efeito de comparação, as reservas brasileiras são de 14 bilhões de barris). A maior parte da produção é exportada para a Europa.

O país, de 6,4 milhões de habitantes (equivalente à população do Rio de Janeiro), tem ainda o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África. A riqueza, porém, não é bem distribuída entre a população. A despeito das melhorias em relação ao período anterior à Gaddafi, um terço vive na pobreza e a taxa de desemprego é de cerca de 30%. Esse é um dos principais motivos dos protestos.

A Líbia foi província romana, domínio do Império Otomano e colônia italiana. Após a Segunda Guerra Mundial, o território foi repartido entre a França e o Reino Unido. Em 1º de janeiro de 1952, a ONU aprovou a independência, reunindo os territórios no Reino Unido da Líbia. O emir Sayyid Idris al-Sanusi foi coroado rei Idris I, primeiro e único monarca a governar a nação.

Nos anos seguintes, Estados Unidos e Reino Unido instalaram bases militares em solo libanês. Mas a descoberta de petróleo levou o governo a pedir a retirada das tropas estrangeiras. O minério também mudou o perfil econômico e social do país, que até então era um dos mais pobres do continente africano.

Um golpe de Estado depôs a monarquia em 1º de setembro de 1969, sem derramamento de sangue. Gaddafi, com apenas 27 anos, assumiu o comando. Até hoje, a Líbia não tem Constituição ou partidos políticos, e a oposição é proibida.

Nas décadas seguintes, o ditador se tornou inimigo do Ocidente, comparável ao iraquiano Saddam Hussein. Nos últimos anos, entretanto, conseguiu se reaproximar das potências ocidentais.


Terrorismo
Gaddafi ficou conhecido pelo jeito extravagante de se vestir, os discursos incoerentes e a habilidade diplomática. Nos anos 1980, foi monitorado pelos serviços de inteligência por ligações com grupos terroristas.

O governo da Líbia foi responsabilizado por atentados na Europa e no Oriente Médio. O mais conhecido foi o ataque à bomba no voo da Pan Am sobre Lockerbie, na Escócia, que matou 270 pessoas em 1988.

Dois anos antes, em 1986, o ex-presidente americano Ronald Reagan (que chamou Gaddafi de "cachorro louco”) autorizou um ataque aéreo à capital Trípoli. A investida ocorreu em represália a um atentado contra uma discoteca em Berlim Ocidental, que matou dois militares americanos. Entre os mortos no ataque à Trípoli estava a filha adotiva de Gaddafi.

Depois do 11 de Setembro, Gaddafi passou a colaborar com os americanos na guerra contra o terrorismo. Em 2003, ele assumiu a autoria do atentado de Lockerbie e pagou uma indenização bilionária às famílias das vítimas.

A estratégia visava suspender as sanções impostas pela ONU. Deu certo. Nos últimos anos, Trípoli reatou legações diplomáticas e comerciais com a Europa e dos Estados Unidos, atraindo investidores estrangeiros. A crise atual mudou o panorama. Os governos ocidentais agora pedem a saída do ditador e fazem a retirada em massa de estrangeiros.


Direto ao ponto
Os protestos pró-democracia que se espalharam pelo mundo árabe ameaçam agora derrubar o ditador líbio Muammar Gaddafi. Quase 300 pessoas já morreram desde o início das manifestações na Líbia. Gaddafi, porém, está cada vez mais isolado. Ele enfrenta deserções em seu Exército e a pressão internacional para que deixe o cargo, que ocupa há 41 anos.

No último dia 22 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU condenou o uso da violência contra os líbios. Em pronunciamento na TV, Gaddafi disse que “morreria como um mártir”, e ameaçou reprimir os manifestantes.

A Líbia é o quarto maior produtor de petróleo na África e tem o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente. A riqueza, contudo, não é bem distribuída entre a população.

Gaddafi chegou ao poder em 1969 por meio de um golpe de Estado. Nos anos 1980, financiou grupos terroristas, sofreu bombardeio americano e sanções da ONU. Na última década, se reaproximou dos Estados Unidos e da Europa. A atual crise no país mudou a situação favorável do país junto ao Ocidente.

As revoltas árabes já derrubaram dois presidentes – na Tunísia e no Egito – e chegaram à Bahrein, Marrocos, Iêmen, Jordânia, Irã e Arábia Saudita

A Primeira Guerra Mundial /

Todos os países participaram? Quem venceu?


Nem todos os países participaram da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas as principais potências da época estiveram envolvidas. A maioria dos principais países envolvidas na Primeira Guerra era do continente europeu. As batalhas mais importantes também se desenrolaram na Europa. Países de outros continentes também acabaram participando da guerra, mas se envolveram em função do que estava acontecendo na Europa. Entre os países não-europeus que participaram da guerra estavam os Estados Unidos e o Japão (que foram aliados na Primeira Guerra e inimigos na Segunda Guerra).

Quando a Primeira Guerra começou, quem detinha maior influência mundial era a Europa (especialmente a Inglaterra) e não os Estados Unidos, como acontece nos dias de hoje. Vale lembrar que, desde o início da guerra, a Inglaterra recebeu o apoio de outros países de língua inglesa localizados fora da Europa (com exceção dos Estados Unidos que entrou mais tarde), como o Canadá, na América do Norte, a Austrália e a Nova Zelândia, esses últimos localizados na Oceania.

"Aliados, avante à vitória", diz o cartaz de 1914


O Brasil participou da Primeira Guerra?
O Brasil chegou a declarar guerra à Alemanha em 27 de outubro de 1917, meses após navios mercantes brasileiros serem afundados por submarinos alemães. Antes disso, o poeta Olavo Bilac fundou a Liga de Defesa Nacional, organização que defendia a entrada do Brasil na guerra e a implantação do serviço militar obrigatório. A marinha brasileira organizou uma esquadra para patrulhar o Atlântico, que em agosto de 1918 partiu da ilha de Fernando de Noronha rumo à África. Mas, já em Dacar, no Senegal, 156 tripulantes foram mortos pela chamada gripe espanhola, verdadeira epidemia que assolou o mundo naquela época, matando milhares de pessoas.

Em 10 de novembro, a esquadra chegou a Gibraltar, e no dia seguinte foi informada do fim da guerra. O Brasil também enviou uma equipe médica que prestou ajuda na França. A participação do Brasil na Primeira Guerra foi muito reduzida, ao contrário do que viria a acontecer na Segunda Guerra, em que o país teve uma participação bem mais atuante. Para a economia brasileira, a Primeira Guerra representou um período de crescimento: houve aumento das exportações brasileiras de matérias-primas e um crescimento das indústrias (numa época em que a maioria dos brasileiros ainda vivia no campo e não na cidade).


O que a Primeira Guerra tinha de diferente das guerras anteriores?
Antes de tudo, vale lembrar que "Grande Guerra" foi o nome dado ao conflito pelas pessoas que a viveram. O nome "Primeira Guerra Mundial" só surgiu com a Segunda Guerra Mundial, que envolveu um número de países maior do que a Primeira. Uma das grandes diferenças em relação às guerras anteriores foi ouso de novas armas que aumentaram em muito em capacidade de destruição: metralhadoras, gases venenosos, aviões e submarinos. Um único soldado armado com uma metralhadora podia matar a distância mais homens do que vários soldados armados com baionetas.

Os alemães foram os primeiros a utilizar armas químicas, entre as quais, estava o gás mostarda que asfixiava as vítimas e tinha grande poder de corrosão. Para se proteger dos ataques dessas armas químicas, os soldados ingleses foram os primeiros a usar máscaras de proteção. No início, os aviões eram usados apenas para observação e espionagem, mas logo passaram a ser usados também para ataques aéreos.

Os submarinos foram bastante utilizados pela marinha alemã para afundar tanto navios inimigos quanto navios mercantes de nações neutras que comerciavam com os países inimigos da Alemanha. Com essas novas armas, a cavalaria que era o orgulho dos exércitos, tornou-se praticamente obsoleta.

O número de baixas (mortos e feridos) na Primeira Guerra Mundial foi muito superior ao de guerras anteriores. Enquanto a Guerra franco-Prussiana (1870-1871) teve uma média estimada de quase novecentas baixas por dia, a Primeira Guerra Mundial teve uma média de pouco mais de cinco mil e quinhentas baixas por dia. Tudo isso contribuiu para acabar com a imagem romântica e heróica que muita gente tinha da guerra.


Quem venceu a Primeira Guerra?
Talvez, fosse mais adequado perguntarmos se houve vencedores. Não há dúvidas que a Alemanha foi a grande derrotada na Primeira Guerra. Quando a guerra acabou, Inglaterra, França e seus aliados foram aparentemente os grandes vencedores. Mas se considerarmos as condições em que a guerra terminou e o fato de que os tratados de paz firmados após o final do conflito não evitaram uma nova guerra (a Segunda Guerra Mundial), podemos afirmar que a médio e longo prazo todos acabaram perdendo.


O que foi o Tratado de Versalhes?
O Tratado de Versalhes, firmado em 1919, impôs duras condições à Alemanha, que foi obrigada a pagar altas indenizações à França. A própria escolha do local onde foi assinado o tratado era um indício do desejo de vingança dos franceses em relação aos alemães: a Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, em Paris, o mesmo em que Bismarck, o responsável pela unificação da Alemanha, havia proclamado em 1871 o Segundo Reich (Segundo Império) alemão, após a derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana. Entre os vencedores, a França foi a principal responsável pelo Tratado de Versalhes. A própria Inglaterra chegou mesmo a defender a revisão do tratado, para aliviar as condições impostas à Alemanha. Os Estados Unidos não ratificaram o tratado.

Vários militares alemães jamais reconheceram a derrota alemã e sentiram-se traídos pelas condições impostas no Tratado de Versalhes. Na visão desses militares alemães, como a guerra havia acabado com um armistício, isto é uma trégua, era impossível reconhecer a derrota. Os italianos também sentiram-se traídos, porque apesar de terem lutado do lado dos vencedores, a Itália não recebeu os novos territórios prometidos. Esses ressentimentos iriam favorecer o surgimento de duas ditaduras: na Itália, o fascismo de Benito Mussolini, na Alemanha, o nazismo de Hitler. Uma nova guerra estava a caminho...